Quando quem faz compra de quem faz
Há algum tempo tenho vivido as delícias de ser “quem faz”. Apesar de não ser minha única fonte de renda, é algo que faço com muito prazer e cada vez mais ganha força com os retornos que recebo de clientes tão felizes e satisfeitas com suas peças. É realmente gratificante estar nesse papel.
No entanto, tenho percebido também o quanto é bom ser “quem compra” (de quem faz, claro!!!). Já não é mais qualquer peça que me agrada. Hoje em dia, ela precisa ser mais do que bonita, ela precisa ter carinho, energia e cuidado. Eu quero aquele atendimento que vai fazer da minha peça A MINHA PEÇA. Não porque eu preciso de exclusividade, de jeito nenhum, mas porque eu quero que aquele produto tenha a minha cara e eu mereço isso, nós merecemos isso.
Exemplificando com a prática… Dia desses, percebi que precisava de uma sapatilha nova e então, iniciei uma busca, não por lojas de sapatos, mas por produções artesanais na internet. E aí me lembrei de uma marca que fazia sapatilhas de crochê, escrevi e iniciamos uma conversa. Durante toda a negociação eu fui prestando atenção em detalhes que a princípio parecem pequenos, mas quando você olha direito são eles que fazem a diferença. A escolha da cor, das linhas, o contato direto com quem produzirá algo que você vai usar no dia a dia. Ela ia fazer o meu sapato!!! Como eu disse, parece pequeno, mas na verdade, é humano. É como se voltássemos no tempo, livres do pejorativo que a expressão possa ter para alguns, mas no sentido de resgate de uma tradição.
E o que mais tem sido esse movimento da produção artesanal contemporânea, se não um resgate de práticas manuais que ficaram por algum tempo esquecidas e renegadas? Eu me sinto privilegiada fazendo parte desse movimento não só de quem produz, mas também de quem escolhe o que irá apoiar através do seu consumo. Sim, porque consumir se tornou um ato político, eu faço as minhas escolhas e as minhas escolhas me representam (momento confissão: estou muito bem representada pela minha sapatilha de crochê quando caminho com ela mundo afora).
Talvez esse texto fique parecendo utópico, já que sim, existem dificuldades nessas negociações e nos processos produtivos diferenciados da produção em larga escala. Mas comprar de quem faz implica em você desenvolver um outro tipo de consumidor, afinal, você quer carinho, energia e cuidado ao comprar, mas quem faz também quer e merece isso em troca. Taí a delícia dessa nova forma de vender e consumir. As pessoas trocam, além de dinheiro e produto, o respeito ao próximo. Não é lindo viver esse momento? Não é lindo comprar de quem faz? É lindo demais, minha gente!!!
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